Supervisora do Dieese Patrícia Costa adverte que a Petrobras deveria subsidiar o gás de cozinha, item essencial para as classes de baixa renda. “Para compensar o lucro dos acionistas, o governo vem escolhendo dar um vale em vez de mexer em uma política que poderia beneficiar milhares de famílias”
São Paulo – O auxílio-gás, que começou a ser pago ontem (18) pelo governo federal, no valor de R$ 52, deve ter pouco impacto no poder de compra das famílias mais pobres. E, de acordo com o Dieese, o preço do botijão deve continuar aumentando ao longo deste ano. Na coluna da entidade no Jornal Brasil Atual, a supervisora de pesquisas do Dieese, Patrícia Costa, alerta que a medida é insuficiente para amenizar a alta de 30% do produto no ano passado e também diante da permanência da inflação em patamares elevados em 2022.
De acordo com a supervisora, o mais efetivo seria o governo interferir no controle de tarifas básicas. “A Petrobras subsidiava o gás por considerar botijão um bem essencial para as famílias. Antes, a companhia absorvia esses aumentos de forma que o consumidor passou vários anos sem ter o reajuste do preço do gás. Mas, agora, para compensar os lucros dos acionistas, o governo dá R$ 26 por mês como um vale-gás. O que não vai resolver em nada a situação, porque o gás continuará aumentando. E, provavelmente, o aumento que teremos será quase que semelhante à metade desse valor pago”, pontua, em entrevista a Glauco Faria.
Inflação sobre os mais pobres
Dados divulgados ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reforçam que as classes mais baixas acabam arcando mais com os custos da inflação, como já era evidente em itens da cesta básica de alimentos e outros custos, como energia elétrica e o gás de botijão. Já as classes de renda mais alta, segundo o Ipea, foram as que menos sentiram os efeitos da alta nos preços no ano passado, com inflação abaixo dos 10%.
O indicador Ipea de inflação por faixa de renda também apresentou desaceleração na passagem de novembro para dezembro. Mas a única exceção foi justamente a inflação para as famílias de renda muito baixa. Nesse caso, a taxa avançou de 0,65% para 0,74% no período. Os reajustes das carnes (1,04%), frutas (8,6%) e óleos e gorduras (2,2%) foram também os que mais pesaram no bolso dos mais pobres.
“É uma questão da escolha política mesmo que se faz. O governo (Bolsonaro) vem escolhendo dar um vale, em vez de mexer em uma política que poderia beneficiar milhares e milhares de famílias. Isso dá o exemplo de como será 2022. Quer dizer, vamos continuar com o aumento do gás, da energia elétrica e com a exportação de alimentos básicos sem que internamente se tenha uma solução com crescimento econômico, aumento e distribuição de renda e com melhora da vida dos brasileiros”, finaliza Patrícia.
Confira a coluna do Dieese
Redação: Clara Assunção